quarta-feira, maio 31, 2006
Do quase nada...
O que se segue surgiu de um momento de inesperada inspiração que gostaria de aqui partilhar...
"Naquela tarde de Outono a chuva caía ritmadamente, como uma torneira que pinga. Ouvia-se o bater das gotas no vidro da janela, nas folhas das árvores, na terra que bebia a água e nas pedras do pátio.
Seguravas-me as mãos trémulas e olhavas-me nos olhos que também queriam chover. Os teus olhos eram o reflexo dos meus, de um tom castanho brilhante, profundo, que deixava adivinhar que não querias partir. Os minutos em que nada conseguíamos dizer passavam nervosamente, contrariando o gotejar do céu.
Quebraste o silêncio com um beijo demorado, um abraço que me envolveu com o teu perfume. Disseste baixinho «tenho de ir». Nada podia eu dizer. Queria gritar «Não! Fica!» mas, amo-te ao ponto de te preferir livre para ir. Livre para voltar, quem sabe... Mas livre.
Partiste, e se a saudade me abala, é com um sorriso que o faz."